Longe
de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria... Antes, sede uns para com
os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus
em Cristo vos perdoou (Ef 4.31,32)
De
todas as tempestades que assolam a família atualmente, talvez nenhuma seja
responsável por mais destruição que as mágoas. As mágoas representam ira
não-resolvida. Quase sempre envolvem as pessoas mais próximas de nós. Enquanto
nos indignamos quando ouvimos de tragédias acontecendo a pessoas em outras
partes do planeta (terrorismo, genocida, etc.) normalmente não guardamos mágoas
contra os vilões. A pessoa magoada experimenta ira contínua, fervendo um pouco
abaixo da superfície da sua vida, uma ferida aberta e podre que tempo nunca
cura. Talvez ela fique adormecida por um tempo, mas até que seja drenada
do seu veneno fatal pelo poder curador da cruz de Cristo, mata a pessoa física
e espiritualmente aos poucos. As mágoas corrompem as fontes da
vida.
O primeiro passo para libertação das mágoas é identificar nossa ira. Mas para
alguns, não é muito “espiritual” admitir a ira. Por isso, usamos outros termos
para descrever o que a Bíblia identifica, sim, como “ira”: “frustração”,
“tristeza”, “decepção”, etc. (Ef 4.26,27,31).
Deus nos chama para uma vida de perdão, o mesmo tipo de perdão que Cristo nos
ofereceu pela Sua morte na cruz. Somente Cristo Jesus,vivo em nós, será capaz
de transformar mágoas em perdão.
Nossa
cultura de vitimização justifica ira e mágoas como respostas a situações como
essas—afinal de contas, realmente somos vítimas. Mas uma cultura de
vitimização nunca alcança vitória ou livramento da escravidão de mágoas.
E falha por não levar em consideração a vida de Cristo em nós—Aquele que foi o
maior Vítima de todos os tempos. Na cruz Ele exclamou, “Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem”(Lc 23.34)
Certamente não queremos minimizar ou negar o fato de que muitos entre nós somos
vítimas. Mas afirmamos que, mesmo assim, somos responsáveis pelas nossas
respostas aos abusos que sofremos.
Em Mateus 18.21-35 Jesus contou a história de um servo devedor que não podia
pagar uma dívida que equivalia entre 260.000 e 360.000 QUILOS de metal precioso
(talvez ouro)--uma quantia que demoraria milhares de anos para quitar. O
rei perdoou-lhe sua dívida, só para descobrir que o servo ingrato lançou na
cadeia um conservo que lhe devia o equivalente de 100 dias de serviço de um
trabalhador comum.
A moral da história? Quando realmente percebemos o tamanho da dívida que temos
com Deus, TODAS as ofensas que pessoas cometem contra nós, embora reais e
difíceis, diminuem em
comparação. A chave está em reconhecer nossa própria dívida,
e mergulharmos no amor e perdão que nosso Rei nos estendeu.
Pessoas
que ainda não reconheceram o verdadeiro estado do seu coração, a profundidade
do seu pecado, a miséria da sua alma diante de Deus, muitas vezes têm
dificuldade em perdoar outras pessoas os males que lhes fizeram. Não entendem
tamanha dívida que elas mesmas foram perdoadas e, por isso, guardam mágoas
contra essas pessoas.
Muitas vezes vivo grato pelo perdão, mas não ao ponto de perdoar aos outros.
Minha tendência é diminuir o tamanho da minha dívida para com Deus, imaginando
que sou capaz de pagá-la, quando de fato a conta é impossível. Por isso,
recuso perdoar aqueles que me magoaram. Guardo a minha ira, e
responsabilizo as pessoas por satisfazerem meus desejos.
Existe alguém que eu estou responsabilizando por ter me ofendido, que eu
mantenho como devedor? Guardo mágoas contra essa pessoa?
Perdoar
alguém que nos abusou, ofendeu, machucou ou privou é impossível sem uma obra
profunda de Jesus no coração. Só a vida dEle em nós para perdoar do coração!
Mas Ele prometeu nos capacitar para fazer isso e muito mais.
Você realmente crê que Deus pode carregar a sua dor? Sarar as feridas que você
recebeu na jornada da vida? Pela graça e pelo poder de Jesus, você pode confiar
ao Pai aquele que fez de você uma vítima? Viver livre da ira e das mágoas
envolve um evento E UM PROCESSO. Muitas vezes teremos de chegar a um
ponto em que estendamos perdão “uma vez para sempre” para alguém que nos
ofendeu. Mas não significa que nunca mais seremos inclinados a lembrar o que
ele fez, com a possibilidade de todas as velhas emoções voltarem como furação.
“Perdoar
e esquecer” soa melhor na teoria do que na prática. Para muitos é impossível
esquecer de eventos traumáticos em suas vidas. Mas podem, sim, “esquecer” no
sentido bíblico quando escolhem não levar em conta as ofensas do passado. É
isso que a Bíblia quer dizer quando diz que Deus “esquece” de alguma coisa. Ele
não deixa de ser Deus, tendo uma memória fraca. Mas Ele decide nunca mais levar
em conta nosso pecado (Sl 103.10, 12). Por isso, talvez tenhamos de
passar pelo processo de perdão em nosso coração repetidas vezes, escolhendo
cada vez pela fé não mais responsabilizar a pessoa pelo seu pecado, morrendo
momento após momento ao “direito” de vingança, e estendendo o amor e perdão de
Cristo.
Também
é importante lembrar que o perdão pode ser unilateral, quer dizer, podemos
perdoar da nossa parte sem que a outra pessoa peça perdão, reconheça seu erro,
ou aceite o perdão. Não importa tanto quanto o fato de que estendamos
para ela o perdão como Cristo fez por nós.
Passos para o Perdão O que fazer se descubro ira e mágoa em meu coração? Os
“passos para o perdão” que seguem já ajudaram muitas pessoas a encontrar
alegria, paz e liberdade da escravidão das mágoas. Lembre-se de que esses
passos são somente parte de um processo. Não representam uma “fórmula mágica”,
mas uma expressão de princípios bíblicos sobre o perdão.
1. Identificar as ofensas específicas que a outra pessoa
cometeu contra mim.
2. Arrependa-se do seu próprio pecado,
confessando-o a Deus.
3. Conte o custo de não perdoar.
4. Veja a pessoa que você está perdoando
pela perspectiva divina.
5. Ore pela pessoa que você está
perdoando.
6. Libere as ofensas que a pessoa cometeu
contra você, e cancele a dívida dele(a).
7. Reconstrua relacionamentos,
dentro do possível (e sábio).
Talvez
não seja possível voltar o tempo e reconstruir o relacionamento como era antes.
Mas há passos concretos que podem ser tomados, tanto quanto depender de você
(Rm 12.18), para reconstruir o relacionamento.
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