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terça-feira, 4 de outubro de 2011

CONFISSÕES DE UM EX-FARISEU



MUITO INTERESSANTE ESTE RELATO DO REVERENDO DIGÃO.
No nosso meio evangélico, os testemunhos de ex alguma coisa fazem muito sucesso. São os ex-traficantes, ex-gays, ex-jogadores de futebol, ex-adúlteros, ex-bandidos. Alguns realmente deixaram a sua vida pregressa no passado, mas outros ainda fazem aquela visitinha básica ao seu baú de maldades, como que para matar a saudade.

Mas eu nunca vi o testemunho de um ex-fariseu. Creio que, pelo fato de eles serem tantos, e com tanto poder nas igrejas, é muito complicado algum deles dar realmente a cara para bater. Como a graça de Deus não é mais algo que os crentes vivam, apesar de professar a sua fé nela, os fariseus (com suas regras, modelos, estatutos e padrões sufocantes) encontram guarida e até mesmo incentivo para continuar com suas farisaíces. Mas eu resolvi confessar: sou um ex-fariseu.

Resolvi fazer esta confissão porque o peso da consciência estava muito forte. Vejo que, com o meu farisaísmo, prejudiquei algumas pessoas que a graça de Deus resgatou. O meu farisaísmo transformou a beleza do amor ao Senhor e da vida cristã em um fardo religioso tão complicado de se carregar que a única solução é a hipocrisia. Os crentes fingem que seguem direitinho as regras, e eu finjo que acredito, e todos ficamos bem, comendo uma pizza no fim do culto de domingo à noite.

Mas Deus, em Sua misericórdia, mostrou que há solução para pessoas como eu, ex-fariseus. Ele insiste em pessoas que, por um motivo ou outro, desviam de Seu puro caminho, traçando caminhos humanos pensando estar agradando ao Senhor. Deus, através de Sua graça, mostra que, apesar de não aprovar o farisaísmo, quer resgatar aqueles que pensam estar sendo sinceros em sua rigidez legalista.

Gostaria de apontar três pontos que me fizeram acordar e abandonar o farisaísmo. Não digo que esteja completamente curado, pois há ainda alguns surtos de farisaísmo em mim, mas Deus completará a obra até o dia de Cristo Jesus. Considero, portanto, o farisaísmo como o alcoolismo: uma doença que você é liberto dia-a-dia.

1º - ESTUDOS

Sou pastor, de formação presbiteriana independente. Acontece que me converti em Belo Horizonte, em uma igreja que é um verdadeiro foco de farisaísmo, que prefiro declinar o nome por gentileza com os realmente cristãos de lá. E não sei se você conhece bem Belo Horizonte. O clima é agradável, as pessoas, gentis (ou, segundo alguns, relaxadas e desinteressadas), a poluição e a violência crescentes começam a desmentir a fama de roça grande. Porém, uma outra característica também é bem marcante: o alto teor fundamentalista neopentecostal das igrejas evangélicas, ou pelo menos da maioria delas. Isso fez com que empresas como a IURD e a Internacional da Graça de Deus, entre outras, encontrasse terreno fértil.

Com a vida dura, a questão acadêmica é algo que não importa tanto como em outros centros. Sendo assim, formei-me em Teologia pelo Seminário Bíblico Mineiro, à época seminário top de linha. Mas confesso que, apesar de ter aprendido a gostar de estudar no seminário, o estudo teológico ficava em segundo plano. O negócio era fazer. Não importava o quê, mas o importante era fazer alguma coisa.

Nosso evangelicalismo padece desse mal que é o ativismo. São congressos, encontros, retiros, evangelismos, passeatas, carreatas, cultos disso, cultos daquilo, que não deixam que você faça o que a Bíblia nos diz para fazer, que é meditar, ou seja, refletir, pensar, parar de fazer alguma coisa e deixar Deus falar, nos orientar e mudar nossas vidas.

Mas os estudos me abriram os olhos. Fiz o curso de liderança avançada do Haggai Institute em Cingapura. Foi um divisor de águas, onde aprendi coisas que mudaram a minha maneira de pensar. E, com o meu mestrado, vejo que muita coisa que fiz, ou fiz errado, ou não deveria ter feito. Arrependo-me delas, e peço perdão a Deus pelas mancadas farisaicas.


2º - PESSOAS

Estou aprendendo a gostar de MPB. Nunca gostei muito, devido ao fato de eu ter sido um adolescente (depois um jovem e um adulto) imerso em rock e heavy metal. Mas há alguns artistas, como 14 Bis, Flávio Venturini, Toninho Horta, Milton Nascimento, Zé Ramalho (para não dizerem que sou bairrista e escuto só música de Minas!) que, ainda que não sejam cristãos evangélicos, foram instrumentos de Deus para abençoar minha vida.

Mas há um cantor que realmente não desce: Caetano. Considero-o chato, arrogante e decadente. Mas há uma frase sua que considero magistral. Na música Sampa, ele diz que Narciso acha feio o que não é espelho.

Acertou na mosca! O que os fariseus não sabem é que eles são tremendamente narcisistas. Procuram, no outro, a exata imagem de seu ser. Se o outro não é exatamente igual, ele é, como disse Caetano, feio. Se o outro pensa de maneira diferente, é descartado, com adjetivos pouco recomendáveis, como carnal, encrenqueiro, liberal, modernista, e outros epítetos menos saudáveis.

Meu primeiro pastorado foi em uma pequena cidade do sul de Minas. É o paradigma de toda cidade pequena: uma praça, onde, ao seu redor estão as agências bancárias, o fórum, a prefeitura, a igreja matriz, o comércio, os hotéis. E não podemos nos esquecer que na praça há um coreto.

Naquela cidade, a igreja que pastoreei (como auxiliar, que fique bem claro) era a mais forte. Até mesmo o padre local reconhece isso. Só que não era um ambiente saudável para o cristianismo. Primeiro, porque todo mundo vigiava todo mundo, parecia episódio de Arquivo X; segundo, porque havia um padrão introjetado na mente das pessoas sobre como devia ser a postura do crente, e em especial do pastor. E isso era muito cobrado.

Imagine você, eu à época com 26 anos, oriundo do mundão podre, sem pedigree evangélico, pois fui o primeiro a me converter na família, e o primeiro pastor também, cair em um ninho de fariseus como esse. Ali vi e aprendi que, se você não está com a maioria, você está fora. Então, aos poucos parei de ser eu mesmo para ser aquilo que os outros queriam que eu fosse. Ali fui diferente de Davi, pois eu aceitei vestir a armadura de Saul. Comecei a tomar gosto pelo fato de ser chamado de pastor nas ruas, e de vez em quando até mesmo reverendo. E isso me fez muito mal. Deixei de ser a pessoa bem-humorada que eu era e comecei e ficar muito sisudo. Comecei a querer me pautar mais pela Constituição da igreja do que pela Bíblia. Este é o mal de evangélicos brasileiros. Eles não sabem rir, acham que tudo é solene demais, sério demais. Ou então descambam para palhaçadas catárticas como as unções do riso, do leão, do pitbull e de outros animais do jogo do bicho celestial.

Dali, fui ser pastor no Sul do Brasil. Mais uma vez, aprendi uma coisa: eu deveria ser como sou, e não como os outros queriam que eu fosse. Aprendi muito com irmãos e irmãs queridos, que me mostraram um cristianismo puro de coração e que, sendo tão diferentes de mim, ainda assim eram pessoas que amavam ao Senhor e eram amadas por Ele.


3º - GRAÇA

Como todo bom fariseu, abominava a idéia que outros cristãos pudessem fumar, beber álcool, ou até mesmo – heresia das heresias – ouvir música que não fosse evangélica. Eu dizia para os outros e para mim mesmo: a música evangélica é muito melhor do que a música mundana!

Hoje eu sei que a frase está completamente errada. A música dita evangélica é de uma indigência de dar dó. Antes, o problema era apenas rimar Jesus com cruz e luz. Agora, o problema é pior. Os arranjos são de fazer corar os programas musicais da rede Globo e os sertanejos de hoje em dia. As letras são infames, em um dizer mais polido. Para esconder suas falhas, há a pirotecnia aprendida em algum canto de Hollywood, ou no Instituto Rhema, fonte de grandes heresias brasileiras perpetradas pela liderança atual.

Em um filme de Hollywood, sempre há como você descobrir se está com um bom enredo ou com uma bomba nas mãos. Via de regra, se os efeitos especiais são o principal, o filme é um lixo, pois o argumento e os atores ficaram em segundo plano. Na música evangélica, segue-se o mesmo receituário. A música é ruim? A Teologia é de fazer Joseph Smith revirar na tumba? Ora, é fácil: aplicam-se efeitos especiais, ou espaciais, já que se trata de coisas das regiões celestiais. Então, dá-lhe churumelas, revelamentos espiritosféricos, dancinhas que nada ficam a dever a Tchans e Créus da vida, jogo de luzes controladas por computador. A simplicidade do Evangelho esvai-se no ralo em nome do deus marketing, do deus fama, do deus poder, do deus dinheiro e do deus ego.

Mas, em um dia do meu treinamento lá em Cingapura, conversando com um colega, um egípcio radicado no Sultanato de Omã, ele me pergunta: é verdade que os cristãos do Brasil não bebem álcool? E eu, com todo o meu farisaísmo, disse a ele: é lógico que não! Por acaso, lá em Omã, vocês bebem? Sua resposta: é lógico que sim!

Mas, não é possível! Será que o único espiritual neste curso sou eu? Pensei, de maneira farisaica. Isso me mostrou o seguinte: essas coisas, que são tão importantes para os fariseus, ou seja, os ritos externos, são de importância secundária para outros cristãos. Por que preocupar se um irmão em Omã está bebendo ou não o seu vinho, se ele está mais preocupado com a polícia que lhe proíbe de pregar o Evangelho? Por que preocupar se alguém escuta música secular, se o fato de treinar líderes cristãos em um país de minoria cristã e maioria muçulmana, hindu e budista faz com que haja toda uma preocupação com o bom andamento do treinamento e um bom relacionamento com a sociedade?

E vi que, mesmo que esses irmãos ouvissem música secular, ou bebessem, ou fizessem algo condenável aos olhos farisaicos, eles continuavam andando com o Senhor. Cheguei à conclusão óbvia: Deus não se preocupa com as aparências, Deus vê a essência. De nada adianta ouvir somente música gospel, se minha sintonia com Deus deixa a desejar; de nada adianta beber só refrigerante se o meu testemunho é uma piada sem graça. E vi também que, ao contrário do que eu pensava, Deus não jogou nenhum raio na cabeça desses meus amigos, ou os deixou paralíticos, ou mudos, ou mortos. Pelo contrário, Deus os deixou ainda mais em Sua graça.

O fariseu é um pouco como John Constantine. No filme meia-boca Constantine, Keanu Reeves faz o papel principal, um caçador de demônios. Ele tenta, de todas as maneiras, ganhar sua entrada no céu através de seu sucesso com os capetas. Um diálogo do filme, que é extremamente pós-moderno (não há conceitos de verdade absoluta e nem definição clara de bem e mal), com um anjo Gabriel andrógino e moralmente dúbio, me chamou a atenção. Constantine está conversando com a policial Angie, atormentada com o suicídio de sua irmã. A policial diz: Deus tem um plano para todos nós. Constantine, porém, replica: Deus é como uma criança com uma caixa de areia cheia de formigas. Ele só quer brincar conosco, não tem um plano definido.

Eu queria chegar ao Céu com minha boa justiça, fazendo coisas externas aceitáveis, mas Deus me mostrou que Ele derrama Sua graça por amor, e não por birra, como uma criança brincando com um formigueiro.

Através destas três etapas, estou hoje menos fariseu do que ontem. E, pela graça do Senhor, amanhã serei menos fariseu do que hoje. Não adianta: se não nos escondermos na graça do Senhor demonstrada na cruz, falharemos miseravelmente em nossa caminhada cristã. O nome deste fracasso é farisaísmo. Que o Senhor tenha misericórdia de nós, derramando Sua graça e nos curando de nossa hipocrisia religiosa latente.

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